CRÔNICAS: ADULTOS
1º
lugar: André Telucazu Kondo - Jundiaí/SP
Uma
gota
Quando
eu era criança, pensava que era diferente das outras. Pensava até que era meio
louco. Olhava para as gotas de chuva escorrendo pela janela. Elegia uma delas e
apostava corrida com as demais. O melhor era o fim da chuva, quando as gotas
pareciam se cansar e ficavam paradas no vidro. Então, eu ficava ali, parado
também, observando qual gota seria ousada o suficiente para disputar nova
corrida. Confesso, às vezes, perdia a paciência e dava uma leve cutucada no
vidro. Aí, uma gota se esgueirava lentamente até alcançar outra gota, que por
fim alcançava outra e estava reiniciada a corrida. Quem ganhava? Não sei. Não
me importava. Eu só ficava feliz com isso.
Depois,
descobri que outras crianças faziam isso também. E comecei a achar a
brincadeira boba. Mas nunca deixei de me sentir encantado com a água,
sobretudo, pelas gotas. Foi assim que, muitos anos depois das primeiras
corridas líquidas, peguei-me entretido com o velho passatempo. Eu, um adulto,
olhando para o vidro da janela do ônibus, que estava preso em um
engarrafamento.
A
gota estava lá no alto, agarrada ao vidro. Era uma gota solitária. O que me
deixou curioso foi o fato de que não estava e nem havia chovido. Então, de onde
surgiu aquela gota?
Pensei
em várias teorias. Talvez a gota fosse um pedacinho do Atlântico, ali mesmo, na
grande metrópole distante do mar. A gota poderia ter se evaporado do oceano e
viajado até ali até se desprender, solitária, de alguma nuvem maior. Por sua
vez, aquela gota do Atlântico poderia ter se originado no oceano Índico. Isso,
aquela gota poderia ter viajado em alguma corrente marítima do Índico ao
Atlântico! E se, por sua vez, aquela gota tivesse surgido do degelo de alguma
montanha do Himalaia? E o filete de água teria se juntado a um regato e o
regato a um rio, como o Ganges. Talvez tivesse viajado mesmo pelo Ganges. Quem
sabe, até deslizado pelo cabelo de alguma dançarina indiana que se banhava no
sagrado rio ao nascer do sol? De lá, teria ido rio abaixo ao Índico. Sim,
aquela pequena gota poderia ter vindo de muito longe...
Então,
não sei por que, aquela gota única decidiu apostar uma corrida solitária. Ela
escorregou por toda a extensão do vidro e desapareceu. O ônibus voltou a andar.
Olhei à minha volta. Ninguém viu aquela gota. Por isso, tive que sorrir
sozinho.
2º
lugar: Ingrid Aparecida Ditzel Felchak - Ivaí/PR
Um copo
Acordar
disposto é um ato impossível para quem viajou entre pesadelos e problemas do
dia anterior. O banho não escorreu pelo corpo sonolento e o café não bailou
pela garganta crispada. A pressa foi um ato mal calculado. A lotação recendia a
essências variadas e anoitecidas. Mais um dia! Sonhos somados a necessidade.
João
atravessou a avenida deixando para trás o ponto abarrotado de injúrias
matutinas. Correu entre carros, motos e pedestres alucinados. Seu maior
objetivo, naquele momento, era encontrar o que almejava. O que todos naquele
dia estavam procurando desesperadamente. Longos dois dias. Queriam resolver o
problema, pois nem mesmo a natureza estava ajudando.
A
dificuldade, em questão, há tempo vinha se mostrando iminente. Previsões é que
não faltavam e dados científicos mostravam o que estava por acontecer. Alguns
rezavam e outros faziam simpatias já conhecidas de outros tempos.
Enfim,
ah! Enfim, o que mais João almejou está em seu poder. Um maravilhoso
copo-d’água. Tão raro, naquele momento, como a mais cara bebida. A cada gole o
esquecimento de dias sem água e da torneira a gotejar seu ritmo de tristeza.
Simples copo-d’água! Simples conteúdo! Simples líquido da vida.
2º
lugar: Marlene da Silva Leal - Rio de Janeiro/RJ
Eu
e o chafariz
Da
última vez que nos vimos foi em frente ao chafariz daquela praça...
Estávamos
ali sentados no banco. Admirávamos o sobe e desce das águas iluminadas pelo
vermelho do sol poente num balé de cores. Era uma despedida. Estava combinado
que seria nossa última tarde juntos. Nossas vidas já não podiam seguir o mesmo
destino. O silêncio entre nós era retumbante. Os respingos d’água tentavam
apagar o fogo do meu amor ainda ardente e que não seria mais possível continuar
a existir. As lágrimas se misturavam aos respingos trazidos pelo vento, um bom
disfarce para que não fossem notadas. Ele levantou-se, despediu-se de mim com
um abraço quente de aconchego, como quem pede perdão sem palavras. Atravessou a
praça sem olhar para trás. Fiquei ali ainda por algum tempo observando a
pujança das águas do chafariz. Casais passavam abraçados numa felicidade de me
doer. Crianças corriam de um lado para outro aproveitando a umidade para se
refrescarem do calor. Um quadro digno de Monet. A noite chegou,. Chegou escura
e silenciosa Nem a Lua deu o ar da sua graça. Três décadas se passaram depois
daquele fatídico dia.
Hoje
volto. O chafariz está seco como minha alma e minhas mãos. As folhas sem vida
num outono sem fim seguem sopradas pelo vento, vagabundeando sem destino. Não
há luzes, não há dança das águas, não há namorados tampouco crianças correndo
ao redor. A decadência do lugar me assusta. Os pombos despejam seus dejetos
pela estrutura remanescente. Minhas lágrimas há muito já secaram como o
chafariz e as feridas daquele amor do passado já cicatrizaram. Secaram como as
torneiras vetustas da fonte. Não permitem mais que jorrem lágrimas nem gotas
d’água.
Somos
dois seres semelhantes na história da vida. Eu e o chafariz. Sem brilho, sem
glória nem glamour, aguardando passivamente a decisão dos outros sobre nossos
destinos.
3º
lugar: Orlando Luiz Azevedo - Irati/PR
Água
Somos
quase água - 70% do nosso corpo. Elemento presente na natureza de tantas
formas: Na lágrima derramada, na chuva que cai. Na água doce que desce da
colina, na fina neblina que encobre minha cidade ao amanhecer. Na água que escorre pelo gramado e que
refresca os pés das crianças. Nas águas
que se ajuntam e inundam ruas e casas, na gota que umedece a semente e a faz
germinar. Nas águas que formam o riacho, o rio e o mar. No gole que sacia a
sede e na torrente que envolve o corpo no banho matinal. Na água benta que lava
até a alma, nas gotas que deslizam pela janela e vão beijar a terra. No reflexo
das gotas que pintam os céus nas tonalidades do arco-íris. Na umidade do ar. Na
bolsa d’água que ao arrebentar no ventre da mãe anuncia o breve nascimento. E
quando ela falta? O que sentimos ao perceber nossa caixa d’água vazia, o cantil
seco, as plantas e flores murchando; a terra rachada? Ainda temos água em
abundância? Até quando? Nossos avós banhavam-se nos rios, bebiam água do poço e
das vertentes. Nascentes borbulhavam no fundo dos quintais. Nós não usufruímos
mais dessas regalias. E os nossos filhos, netos e bisnetos? Como estará
disponível, no futuro, esse liquido precioso? Deixamos correr o desmatamento?
Não protestamos contra as agressões à natureza, não abraçamos o pinheiro que ia
ser derrubado. As águas das chuvas, ao invés de abastecer os mananciais,
escorrem pelo asfalto e construções, levando o lixo, entupindo os esgotos,
causando inundações. É tempo, ainda, de plantar uma árvore, fechar a torneira, pintar uma camiseta com uma gota d’água e
usá-la no dia a dia, como uma bandeira, defendendo essa gota como se fosse a
última.
4º
lugar: Elizabeth Krinski Beraldo - Irati/PR
Arroio
dos Pereiras
Hoje,
convido você a largar tudo o que lhe avexa, para ver o que há de mais bonito.
Trata-se de um pedaço de mata em meio a cidade que purifica o ar, transforma em
alegria e satisfação aos visitantes. É gratuita a entrada e permite desvendar
as coisas mais belas que nos cercam, o lugar é maravilhoso e chama atenção. Com
pés firmes no solo, usufrua tudo o que encontrar.
Ao
chegar, sinta o afago da brisa fresca vir ao seu encontro. O cheiro da terra
úmida, que aos poucos vai mostrando a beleza do ambiente. Os pinheiros em
grandes taças ao vento lhe fazem um brinde. O tapete de folhas no chão, o
brilho do sol, a beleza e a utilidade das águas, a morada dos animais e de
aves, as plantas silvestres, que pela mata se alastram. Ainda a delicadeza das
flores e de arbustos, onde se aspiram florais,
isto não se pode explicar.
Lance
um olhar otimista em seu caminho e depare-se com o barulhinho das águas
inquietas do Arroio dos Pereiras, deslizando nas pedras disformes encravado,
corre em seu leito, se espicha e envereda. Desce, passa sob pontes e segue por
entre a verdejante mata ciliar. Em seu entorno a fauna miúda nasce e cresce em
sua eterna sucessão.
O
Arroio dos Pereiras limita os bairros: Ouro Verde, Pabis, Gomes e Jardim
Califórnia. Oprimido atravessa a cidade e vai desaguar no Rio das Antas. A
água, a flora e a fauna desperta a consciência ecológica e valoriza o bem estar
da existência.
Deixe-se
encantar, isto traz bons momentos através das coisas simples, pense no que o
“futuro” reserva e invista na natureza para um mundo melhor.
Enfim
valorize a água, sinônimo de vida, que mata a sede, lava, higieniza e é a
gotinha que também lava a alma e nos
torna com o batismo filhos de Deus Pai.
Com
certeza o bondoso Anfitrião agradece e abençoa a cada um.
4º
lugar: Ruth Farah Nacif Lutterback - Cantagalo/RJ
Água
potável - Fonte de vida
Á
água potável não é um ser vivo, mas podemos observar que, considerando seus
ciclos de vida, ela nasce, cresce e morre.
A
água nasce pequenina, ora gota de orvalho, ora flocos de neve ou maiorzinha,
num “olho d’água”. O fiozinho vai escorrendo temeroso, saltitando pedregulhos e
alegrando pequeno animais.
Assim
é a infância da água.
Encontrando
com irmãos que lhe dão força, torna-se adolescente. Cria coragem, atravessa
grotas, corre ligeiro, alimenta a vegetação ribeirinha, fazendo a natureza mais
alegre e florida.
Se
não tem pressa, dá uma parada formando uma lagoa, servindo de pista a patos,
cisnes e outras aves aquáticas. Sonhadora, namora a Rainha da Noite que,
vaidosa, vem à noite se espelhar. Recebendo tributários que vêm dos píncaros da
serra à procura de um leito plano e. calmo, torna-se emaranhada com ondas
turbulentas ou se acalma fecundando campos e serrados sedentos.
Alcançando
aa maturidade a água torna-se serena em rios fundos espalhando a vida e em
cachoeiras levando o progresso por onde passa.
A
marcha vitoriosa da água doce chega, então, ao seu final. Como sabemos, “todo
rio corre para o mar”. Entretanto, á água salgada não é generosa e recebe-a em
“pororoca”...
Quando
seca uma nascente, todo ser vivo entristece porque a água é o “seio maternal da
vida”.
Bendita
seja água divina que, humildemente, num ato de renúncia, perde o nome de
batismo dos seus rios para ficar anônima nos mares.
5º
lugar: Leandro Ditzel - Irati/PR
Cidades
Encantadas
Toda cidade é encantada. Vamos dar uma voltinha por
elas, qualquer uma, e ver o que de encanto elas têm. Foquemos agora, no encanto
das águas, da minha ou da sua cidade. Belezas exuberantes nós veremos em outras
cidades. Foz do Iguaçu com as Cataratas, Prudentópolis com suas belas quedas e,
nossas cidades litorâneas com suas praias e, tantas outras, que cada um saberia
com certeza, agora citar.
Mas vamos focar na cidade em que estamos. Há também o
encanto, basta olhar e vislumbrar. Os rios, talvez não mais tão belos, mas aqui
ou lá, eles estão. Nosso descaso tem tirado o brilho e a beleza dos rios e dos
córregos? É hora de pensarmos então. Podemos reverter isso, quem sabe?
Quantas nascentes estão perto de nós? Todas com suas
belezas e missões, formar os rios e brotar da terra sua seiva vital, a água.
Delas brotam também, tímida e humildemente pequenos córregos, que igualmente
humildes, formarão os mais majestosos e imponentes rios, e que muitas vezes,
não nos damos conta disto. Mas, perto elas estão, as nascentes, que por mais
singelas que sejam, são tão importantes quanto os grandes rios. Sua humildade
não as deixa transparecer a força que têm.
Das pequenas nascentes nasce tudo, a água, a vida e a
esperança. Danificá-las, é dar um golpe em nós mesmos e nos próximos que estão
por vir. Respeitá-las, é termos o discernimento
do quão pequeno somos diante delas e da água, presente divino que delas brota,
derramando por todo o planeta o bem que permite que possamos denominá-lo,
planeta água.
Já parou diante de uma nascente para ver o espetáculo do
brotar das águas? Faça isso e perceberá que está diante de um verdadeiro
milagre, o milagre da vida que jamais seria possível sem o líquido que dali
brota.
A água purifica, acalma e nos faz vivos. Não há como não
se emocionar diante da sua imensa força e do seu poder.
Parar
então, diante do mar para ouvi-lo e senti-lo, nos faz pensar, refletir. Não há
quem não se sinta um grão de areia diante de tamanho espetáculo.
Respeitar a água é importante, mas, proteger suas
nascentes, é vital.
5º lugar: Marilene
Budel - Irati/PR
Uma
xícara de chá
Chegou a dona Pirina, a
parteira, com sua maleta. A bolsa já tinha rompido, chaleira d’água fervendo no
fogão, pilha de toalhas limpinhas a mão. O atendimento termina e cá estou um
presente para a minha família.
O milagre do nascimento
vai pouco a pouco se transformando da bolsa d’água a terra firme e da terra ao
pó. Nessa caminhada a mão firme dos pais vai conduzindo, ajudando a desvendar o
desconhecido, conquistar os sonhos.
Um dos sonhos é de um
país que cuida do seu povo e do meio ambiente. Desafio que vejo ser como quando
servimos chá ao convidado, isto é, sem compromisso algum. O depois
resolveremos, faremos, cuidaremos, são respostas que na maioria das vezes
escuto.
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