terça-feira, 18 de agosto de 2015

RESULTADO DO II CONCURSO LITERÁRIO FOED CASTRO CHAMMA 2015 - CRÔNICAS: ADULTOS

CRÔNICAS: ADULTOS

1º lugar: André Telucazu Kondo - Jundiaí/SP
Uma gota
            Quando eu era criança, pensava que era diferente das outras. Pensava até que era meio louco. Olhava para as gotas de chuva escorrendo pela janela. Elegia uma delas e apostava corrida com as demais. O melhor era o fim da chuva, quando as gotas pareciam se cansar e ficavam paradas no vidro. Então, eu ficava ali, parado também, observando qual gota seria ousada o suficiente para disputar nova corrida. Confesso, às vezes, perdia a paciência e dava uma leve cutucada no vidro. Aí, uma gota se esgueirava lentamente até alcançar outra gota, que por fim alcançava outra e estava reiniciada a corrida. Quem ganhava? Não sei. Não me importava. Eu só ficava feliz com isso.
            Depois, descobri que outras crianças faziam isso também. E comecei a achar a brincadeira boba. Mas nunca deixei de me sentir encantado com a água, sobretudo, pelas gotas. Foi assim que, muitos anos depois das primeiras corridas líquidas, peguei-me entretido com o velho passatempo. Eu, um adulto, olhando para o vidro da janela do ônibus, que estava preso em um engarrafamento.
            A gota estava lá no alto, agarrada ao vidro. Era uma gota solitária. O que me deixou curioso foi o fato de que não estava e nem havia chovido. Então, de onde surgiu aquela gota?
            Pensei em várias teorias. Talvez a gota fosse um pedacinho do Atlântico, ali mesmo, na grande metrópole distante do mar. A gota poderia ter se evaporado do oceano e viajado até ali até se desprender, solitária, de alguma nuvem maior. Por sua vez, aquela gota do Atlântico poderia ter se originado no oceano Índico. Isso, aquela gota poderia ter viajado em alguma corrente marítima do Índico ao Atlântico! E se, por sua vez, aquela gota tivesse surgido do degelo de alguma montanha do Himalaia? E o filete de água teria se juntado a um regato e o regato a um rio, como o Ganges. Talvez tivesse viajado mesmo pelo Ganges. Quem sabe, até deslizado pelo cabelo de alguma dançarina indiana que se banhava no sagrado rio ao nascer do sol? De lá, teria ido rio abaixo ao Índico. Sim, aquela pequena gota poderia ter vindo de muito longe...
            Então, não sei por que, aquela gota única decidiu apostar uma corrida solitária. Ela escorregou por toda a extensão do vidro e desapareceu. O ônibus voltou a andar. Olhei à minha volta. Ninguém viu aquela gota. Por isso, tive que sorrir sozinho.

2º lugar: Ingrid Aparecida Ditzel Felchak - Ivaí/PR

Um copo
         Acordar disposto é um ato impossível para quem viajou entre pesadelos e problemas do dia anterior. O banho não escorreu pelo corpo sonolento e o café não bailou pela garganta crispada. A pressa foi um ato mal calculado. A lotação recendia a essências variadas e anoitecidas. Mais um dia! Sonhos somados a necessidade.
            João atravessou a avenida deixando para trás o ponto abarrotado de injúrias matutinas. Correu entre carros, motos e pedestres alucinados. Seu maior objetivo, naquele momento, era encontrar o que almejava. O que todos naquele dia estavam procurando desesperadamente. Longos dois dias. Queriam resolver o problema, pois nem mesmo a natureza estava ajudando.
            A dificuldade, em questão, há tempo vinha se mostrando iminente. Previsões é que não faltavam e dados científicos mostravam o que estava por acontecer. Alguns rezavam e outros faziam simpatias já conhecidas de outros tempos.
            Enfim, ah! Enfim, o que mais João almejou está em seu poder. Um maravilhoso copo-d’água. Tão raro, naquele momento, como a mais cara bebida. A cada gole o esquecimento de dias sem água e da torneira a gotejar seu ritmo de tristeza. Simples copo-d’água! Simples conteúdo! Simples líquido da vida.








2º lugar: Marlene da Silva Leal - Rio de Janeiro/RJ
Eu e o chafariz
Da última vez que nos vimos foi em frente ao chafariz daquela praça...
Estávamos ali sentados no banco. Admirávamos o sobe e desce das águas iluminadas pelo vermelho do sol poente num balé de cores. Era uma despedida. Estava combinado que seria nossa última tarde juntos. Nossas vidas já não podiam seguir o mesmo destino. O silêncio entre nós era retumbante. Os respingos d’água tentavam apagar o fogo do meu amor ainda ardente e que não seria mais possível continuar a existir. As lágrimas se misturavam aos respingos trazidos pelo vento, um bom disfarce para que não fossem notadas. Ele levantou-se, despediu-se de mim com um abraço quente de aconchego, como quem pede perdão sem palavras. Atravessou a praça sem olhar para trás. Fiquei ali ainda por algum tempo observando a pujança das águas do chafariz. Casais passavam abraçados numa felicidade de me doer. Crianças corriam de um lado para outro aproveitando a umidade para se refrescarem do calor. Um quadro digno de Monet. A noite chegou,. Chegou escura e silenciosa Nem a Lua deu o ar da sua graça. Três décadas se passaram depois daquele fatídico dia.
Hoje volto. O chafariz está seco como minha alma e minhas mãos. As folhas sem vida num outono sem fim seguem sopradas pelo vento, vagabundeando sem destino. Não há luzes, não há dança das águas, não há namorados tampouco crianças correndo ao redor. A decadência do lugar me assusta. Os pombos despejam seus dejetos pela estrutura remanescente. Minhas lágrimas há muito já secaram como o chafariz e as feridas daquele amor do passado já cicatrizaram. Secaram como as torneiras vetustas da fonte. Não permitem mais que jorrem lágrimas nem gotas d’água.
Somos dois seres semelhantes na história da vida. Eu e o chafariz. Sem brilho, sem glória nem glamour, aguardando passivamente a decisão dos outros sobre nossos destinos.



3º lugar: Orlando Luiz Azevedo - Irati/PR
Água
Somos quase água - 70% do nosso corpo. Elemento presente na natureza de tantas formas: Na lágrima derramada, na chuva que cai. Na água doce que desce da colina, na fina neblina que encobre minha cidade ao amanhecer.  Na água que escorre pelo gramado e que refresca os pés das crianças.  Nas águas que se ajuntam e inundam ruas e casas, na gota que umedece a semente e a faz germinar. Nas águas que formam o riacho, o rio e o mar. No gole que sacia a sede e na torrente que envolve o corpo no banho matinal. Na água benta que lava até a alma, nas gotas que deslizam pela janela e vão beijar a terra. No reflexo das gotas que pintam os céus nas tonalidades do arco-íris. Na umidade do ar. Na bolsa d’água que ao arrebentar no ventre da mãe anuncia o breve nascimento. E quando ela falta? O que sentimos ao perceber nossa caixa d’água vazia, o cantil seco, as plantas e flores murchando; a terra rachada? Ainda temos água em abundância? Até quando? Nossos avós banhavam-se nos rios, bebiam água do poço e das vertentes. Nascentes borbulhavam no fundo dos quintais. Nós não usufruímos mais dessas regalias. E os nossos filhos, netos e bisnetos? Como estará disponível, no futuro, esse liquido precioso? Deixamos correr o desmatamento? Não protestamos contra as agressões à natureza, não abraçamos o pinheiro que ia ser derrubado. As águas das chuvas, ao invés de abastecer os mananciais, escorrem pelo asfalto e construções, levando o lixo, entupindo os esgotos, causando inundações. É tempo, ainda, de plantar uma árvore, fechar a torneira,  pintar uma camiseta com uma gota d’água e usá-la no dia a dia, como uma bandeira, defendendo essa gota como se fosse a última.







4º lugar: Elizabeth Krinski Beraldo - Irati/PR
Arroio dos Pereiras
Hoje, convido você a largar tudo o que lhe avexa, para ver o que há de mais bonito. Trata-se de um pedaço de mata em meio a cidade que purifica o ar, transforma em alegria e satisfação aos visitantes. É gratuita a entrada e permite desvendar as coisas mais belas que nos cercam, o lugar é maravilhoso e chama atenção. Com pés firmes no solo, usufrua tudo o que encontrar.
Ao chegar, sinta o afago da brisa fresca vir ao seu encontro. O cheiro da terra úmida, que aos poucos vai mostrando a beleza do ambiente. Os pinheiros em grandes taças ao vento lhe fazem um brinde. O tapete de folhas no chão, o brilho do sol, a beleza e a utilidade das águas, a morada dos animais e de aves, as plantas silvestres, que pela mata se alastram. Ainda a delicadeza das flores e de arbustos, onde se aspiram florais,  isto não se pode explicar.
Lance um olhar otimista em seu caminho e depare-se com o barulhinho das águas inquietas do Arroio dos Pereiras, deslizando nas pedras disformes encravado, corre em seu leito, se espicha e envereda. Desce, passa sob pontes e segue por entre a verdejante mata ciliar. Em seu entorno a fauna miúda nasce e cresce em sua eterna sucessão.
O Arroio dos Pereiras limita os bairros: Ouro Verde, Pabis, Gomes e Jardim Califórnia. Oprimido atravessa a cidade e vai desaguar no Rio das Antas. A água, a flora e a fauna desperta a consciência ecológica e valoriza o bem estar da existência.
Deixe-se encantar, isto traz bons momentos através das coisas simples, pense no que o “futuro” reserva e invista na natureza para um mundo melhor.
Enfim valorize a água, sinônimo de vida, que mata a sede, lava, higieniza e é a gotinha que também lava  a alma e nos torna com o batismo filhos de Deus Pai.
Com certeza o bondoso Anfitrião agradece e abençoa a cada um.

4º lugar: Ruth Farah Nacif Lutterback - Cantagalo/RJ
Água potável - Fonte de vida
Á água potável não é um ser vivo, mas podemos observar que, considerando seus ciclos de vida, ela nasce, cresce e morre.
A água nasce pequenina, ora gota de orvalho, ora flocos de neve ou maiorzinha, num “olho d’água”. O fiozinho vai escorrendo temeroso, saltitando pedregulhos e alegrando pequeno animais.
Assim é a infância da água.
Encontrando com irmãos que lhe dão força, torna-se adolescente. Cria coragem, atravessa grotas, corre ligeiro, alimenta a vegetação ribeirinha, fazendo a natureza mais alegre e florida.
Se não tem pressa, dá uma parada formando uma lagoa, servindo de pista a patos, cisnes e outras aves aquáticas. Sonhadora, namora a Rainha da Noite que, vaidosa, vem à noite se espelhar. Recebendo tributários que vêm dos píncaros da serra à procura de um leito plano e. calmo, torna-se emaranhada com ondas turbulentas ou se acalma fecundando campos e serrados sedentos.
Alcançando aa maturidade a água torna-se serena em rios fundos espalhando a vida e em cachoeiras levando o progresso por onde passa.
A marcha vitoriosa da água doce chega, então, ao seu final. Como sabemos, “todo rio corre para o mar”. Entretanto, á água salgada não é generosa e recebe-a em “pororoca”...
Quando seca uma nascente, todo ser vivo entristece porque a água é o “seio maternal da vida”.
Bendita seja água divina que, humildemente, num ato de renúncia, perde o nome de batismo dos seus rios para ficar anônima nos mares.




5º lugar: Leandro Ditzel - Irati/PR
Cidades Encantadas
            Toda cidade é encantada. Vamos dar uma voltinha por elas, qualquer uma, e ver o que de encanto elas têm. Foquemos agora, no encanto das águas, da minha ou da sua cidade. Belezas exuberantes nós veremos em outras cidades. Foz do Iguaçu com as Cataratas, Prudentópolis com suas belas quedas e, nossas cidades litorâneas com suas praias e, tantas outras, que cada um saberia com certeza, agora citar.
            Mas vamos focar na cidade em que estamos. Há também o encanto, basta olhar e vislumbrar. Os rios, talvez não mais tão belos, mas aqui ou lá, eles estão. Nosso descaso tem tirado o brilho e a beleza dos rios e dos córregos? É hora de pensarmos então. Podemos reverter isso, quem sabe?
            Quantas nascentes estão perto de nós? Todas com suas belezas e missões, formar os rios e brotar da terra sua seiva vital, a água. Delas brotam também, tímida e humildemente pequenos córregos, que igualmente humildes, formarão os mais majestosos e imponentes rios, e que muitas vezes, não nos damos conta disto. Mas, perto elas estão, as nascentes, que por mais singelas que sejam, são tão importantes quanto os grandes rios. Sua humildade não as deixa transparecer a força que têm.
            Das pequenas nascentes nasce tudo, a água, a vida e a esperança. Danificá-las, é dar um golpe em nós mesmos e nos próximos que estão por vir.  Respeitá-las, é termos o discernimento do quão pequeno somos diante delas e da água, presente divino que delas brota, derramando por todo o planeta o bem que permite que possamos denominá-lo, planeta água.
            Já parou diante de uma nascente para ver o espetáculo do brotar das águas? Faça isso e perceberá que está diante de um verdadeiro milagre, o milagre da vida que jamais seria possível sem o líquido que dali brota.
            A água purifica, acalma e nos faz vivos. Não há como não se emocionar diante da sua imensa força e do seu poder.
Parar então, diante do mar para ouvi-lo e senti-lo, nos faz pensar, refletir. Não há quem não se sinta um grão de areia diante de tamanho espetáculo.
            Respeitar a água é importante, mas, proteger suas nascentes, é vital.


5º lugar: Marilene Budel - Irati/PR
Uma xícara de chá
Chegou a dona Pirina, a parteira, com sua maleta. A bolsa já tinha rompido, chaleira d’água fervendo no fogão, pilha de toalhas limpinhas a mão. O atendimento termina e cá estou um presente para a minha família.
O milagre do nascimento vai pouco a pouco se transformando da bolsa d’água a terra firme e da terra ao pó. Nessa caminhada a mão firme dos pais vai conduzindo, ajudando a desvendar o desconhecido, conquistar os sonhos.

Um dos sonhos é de um país que cuida do seu povo e do meio ambiente. Desafio que vejo ser como quando servimos chá ao convidado, isto é, sem compromisso algum. O depois resolveremos, faremos, cuidaremos, são respostas que na maioria das vezes escuto.

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